08/08/2025 08:03 Há 3 semanas

PGR solicita restrição na ampliação do foro privilegiado no STF



Da redação

A Procuradoria-Geral da República (PGR) tomou uma iniciativa importante ao apresentar um recurso ao Supremo Tribunal Federal (STF) com o objetivo de restringir a aplicação de uma decisão recente da Corte, que ampliou o foro por prerrogativa de função. Esse conceito, que é uma forma de foro privilegiado, se aplica a deputados federais e senadores, permitindo que processos envolvendo essas autoridades sejam analisados pelo STF.


Em março deste ano, o STF decidiu que um processo contra um político pode prosseguir na Corte mesmo após o término de seu mandato. Essa mudança gerou debates intensos sobre a justiça e a responsabilidade dos políticos, uma vez que a proteção conferida pelo foro privilegiado busca garantir que membros do legislativo não sejam tratados de forma desigual em comparação com cidadãos comuns.

De acordo com o entendimento atual, o foro privilegiado se mantêm inalterado no STF se o crime foi cometido durante o período em que o parlamentar estava exercendo suas funções. Essa regra se aplica a situações como renúncia, não reeleição ou cassação. Entretanto, a manifestação do procurador-geral da República, Paulo Gonet, enviada ao STF na terça-feira (5), ressalta que essa decisão não deve ter aplicação automática e irrestrita a todos os processos de natureza penal.

Gonet argumenta que a decisão do STF não pode incidir sobre ações que já se encontram em fase final. Para ele, esses casos devem ser mantidos nas instâncias inferiores onde já estavam sendo julgados. Segundo Gonet, “as persecuções penais que já se encontravam com a instrução encerrada, com a abertura de prazo para apresentação de alegações finais, deverão permanecer sob a jurisdição dos órgãos que lhes vinham conferindo regular andamento, assegurando-se, assim, desfecho compatível com as garantias do devido processo legal”.

Esse posicionamento da PGR visa evitar o que Gonet considera um “retrocesso investigativo”. Ele se mostra preocupado com a possibilidade de a ampliação do foro privilegiado, ao invés de garantir justiça e transparência, acabe por criar uma barreira à efetividade do sistema judicial. “Ao contrário do que se pretendia, a implementação automática e irrestrita da nova orientação tem reproduzido exatamente os efeitos deletérios que se buscava mitigar com a superação do entendimento anterior, ocasionando riscos concretos de retrocesso investigativo, morosidade e, em última análise, de inefetividade jurisdicional”, destacou o procurador.

Por outro lado, a discussão sobre o foro privilegiado ganhou evidência nesta semana, especialmente após parlamentares aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro iniciarem articulações políticas. Eles buscam aprovar mudanças nas regras de julgamentos do STF, na tentativa de retirá-lo do cerne da investigação que lhe é atribuída e, consequentemente, impedir que o ex-presidente enfrente julgamento por ações relacionadas ao seu governo.

Bolsonaro, que é réu no núcleo 1 de uma ação penal vinculada a indícios de um golpe, se encontra na fase final do processo. O julgamento está previsto para ocorrer em setembro, e a entrega das alegações finais das defesas deve acontecer na próxima semana, intensificando a expectativa em torno do desfecho deste controverso capítulo da política nacional.

As movimentações recentes destacam a fragilidade e a complexidade do sistema judiciário perante figuras políticas de alto escalão. O debate sobre o foro privilegiado não se limita apenas às questões legais, mas também toca em aspectos éticos e morais que envolvem a responsabilidade de quem detém poder. À medida que a sociedade observa atentamente este cenário, as repercussões das decisões do STF e das articulações políticas se desdobram em um contexto que promete ser fundamental para o futuro do Brasil e a confiança da população em suas instituições de justiça.

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